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Reflexão sobre a sutil arte de nos tornarmos pais.

“Quem somos e a maneira como nos relacionamos com o mundo, são indicadores muito mais seguros de como nossos filhos serão, do que tudo o que sabemos sobre criar filhos” (Brené Brown)

Não sei como foi com você, mas me tornei mãe sem planejamento, sem aviso, sem preparação. Sou mãe-solo e décadas depois de conviver com este ser humano na minha vida, parei para escrever essas linhas despretensiosamente, só para registrar.

Fui mãe muito jovem e nunca ninguém me preparou para a aventura de ter sob minha responsabilidade um outro ser humano, tão indefeso, sensível e dependente. A maternidade me trouxe um chamado que se transformou, mais tarde, em atividade profissional e, depois ainda, em missão de vida.

Seria muito bom se fôssemos treinados para esta viagem de uma maneira mais clara e competente. Talvez sentíssemos menos culpa, menos vergonha, menos frustração e até menos certeza de que “devo estar fazendo tudo errado”.

Ao longo da jornada com um filho, de tão dinâmica e veloz, nunca temos tempo suficiente para validar nossas decisões e escolhas como certas ou erradas. Não dá tempo! Já vem a próxima fase. Novidades quase diárias. E quanto mais eles crescem mais diversidade, novas questões e outras escolhas a serem feitas.

Vivemos em alerta constante! A escola, os amigos, como estão se alimentando, os comportamentos, tudo é nossa responsabilidade!!! É muito pra quem, igual a mim, nem tinha planejado viver esta aventura!!

Mas a gente vai dosando culpa e insegurança, com momentos de carinho e troca afetiva. Ninguém faz isso melhor que um filho. Não tem toque mais macio, olhar mais doce, sorriso mais cativante, palavras mais tocantes do que as dele. E por um breve instante, parece que tudo está valendo a pena.

Conviver tão de perto e intensamente com uma criaturinha em desenvolvimento, aprendendo a viver e aprendendo a ser, é uma oportunidade maravilhosa de nos tornarmos seres humanos melhores também.

Mesmo sem preparo ou aviso, a experiência da maternidade/paternidade, vai se construindo e, inevitavelmente, em alguns momentos, acreditamos que foi graças a ele (o filho) que a nossa vida ganhou um sentido.

Poesia ou filosofia à parte, criar filhos e se relacionar com eles, nem sempre é fácil. A ruptura principal é quando deixamos de ser indivíduos e nos tornamos responsáveis pela vida desta pessoa que, afinal de contas, nasce totalmente dependente de nós.

Aprendemos a ser pais com nossos pais! Se este modelo foi bom ou ruim, cabe a cada um decidir repetir e perpetuar ou inovar e tentar fazer diferente. Independente da escolha, o caminho não é fácil. Talvez por isso dizem que passamos a valorizar nossos pais quando nos tornamos pais.

Desde que nasce, a criança já demonstra seu temperamento, o que nos desafia desde sempre. Vamos nos adaptando, aos horários, aos choros, às dormidas e, em algum momento, deixamos de ser quem somos e passamos e ser seres em adaptação às necessidades deles.

Há uma necessidade iminente nesta viagem, de aprendermos a nos desapegar da fase passada, para nos concentrarmos na fase atual. O tempo todo! A dinâmica de desenvolvimento de um ser humano de tão veloz, nos impõe uma luta quase frenética de adaptação às novas demandas de todas as ordens para reequilibrar esta balança tão instável que é se manter conectado e em estado de troca com alguém que não sou eu.

Várias décadas de treino me dizem que o segredo do sucesso nesta aventura é me manter sendo eu mesma e criar espaço para que ele (o filho) também seja.

Quanto mais eu me concentro em me conhecer e me reconectar comigo, maiores as chances dessa relação que começou tão desigual ir se equilibrando e favorecendo o fato de que somos dois e não um só como parecia ser no início da jornada.

Filhos têm gostos, preferências, desejos diferentes dos nossos. Experimentam sensações diferentes das nossas. Sabem coisas que não sabemos.

Deviam ter nos avisado que a partir de um determinado momento que o que realmente tem valor nesta relação é demonstrar quem eu sou realmente, para que o outro perceba a riqueza e a distinção de ser único neste mundo.

Se é verdade (e eu acredito que seja) que ensinamos o que somos e não o que sabemos, nosso relacionamento com nosso filho ganha qualidades humanas reais. Ao invés de se preocupar em ensinar deveríamos nos preocupar em ser! Ser o que, de fato somos, e experimentar valores como respeito, autonomia, coragem, determinação e auto-amor, com a autoridade que é própria dos que “chegaram primeiro”. Ocupar nosso lugar de pais adultos responsáveis ajuda a harmonizar o ambiente desta relação.

Seja quem você veio pra ser e busque em todos os momentos da sua vida as circunstâncias que favoreçam que você seja cada vez melhor para você e para os outros.

Gostaria de ter ouvido este conselho antes de ter me tornado mãe. Mas não canso de propagá-lo em família e nos vários atendimentos que faço. Sejamos humanos, imperfeitos, buscadores de aprimoramento, responsáveis pela nossa felicidade, se é isso que desejamos que nossos filhos se tornem.

Apesar de, sinceramente, ter muito orgulho da trajetória até aqui. Faço destas palavras meu mantra para, através do exemplo, influenciar pais nesta maravilhosa jornada chamada Vida.



Karla Zippel

Graduada em Filosofia

Pós-graduação em Psicopedagogia Clínica e Institucional

Formação em Life Coach e em Coach para Líderes

Especialista em NeuroEducação. Colaboradora da Escola Humana de Vida e Negócios.


Instagram: @KarlaZippel12


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