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Quando o discurso da humanização esvazia o sentido do humano


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De tanto falar em cuidar, o cuidado virou palavra.E palavra sem prática é só ruído.

Por obrigação, necessidade ou responsabilidade, assistimos ao vocabulário do afeto entrando e se espalhando pelo mundo corporativo nos últimos anos.  “Escuta ativa”, “segurança psicológica”, “liderança empática”, “trazer o humano para o centro”… São expressões que ecoam em apresentações, campanhas e reuniões.


Vemos isso com entusiasmo verdadeiro, afinal, todos os nossos esforços na voz e na palavra estão voltados para isso. Esse é nosso propósito maior: levar humanização aos ambientes corporativos. Mas vemos também com inquietação e atenção: existe um espaço – às vezes enorme – entre o discurso e o gesto. Um vazio que parece insistir em ser preenchido com pirotecnia.


Sabemos que o processo é lento e daí vem o reconhecimento da importância de convivermos hoje com uma série de expressões dentro do mundo do trabalho que antes inexistiam, eram banidas de entrarem, ficavam de fora. Avançamos, viva!!! Porém, de tanto repetir certas palavras sem compreendê-las, elas perdem potência.


A pesquisa State of the Global Workplace 2024 (Gallup) aponta que apenas 23% dos profissionais no mundo se sentem genuinamente engajados, e que o estresse diário atinge níveis recordes.A OMS estima que os transtornos de ansiedade e depressão custem à economia global cerca de 1 trilhão de dólares por ano em perda de produtividade.Não é falta de discursos sobre cuidado — é falta de coerência.


Hoje vemos empresas lançando campanhas de bem-estar enquanto seus times trabalham exaustos. Vemos discursos sobre empatia convivendo com estruturas que continuam premiando apenas a performance e ignorando o sofrimento humano. Incoerências que geram cinismo organizacional — uma descrença silenciosa que mina a confiança e a cultura.

Humanizar não é criar ambientes “bonzinhos” ou emocionalmente permissivos.É reconhecer a complexidade e a inteireza do ser humano — corpo, mente, emoção, propósito. É compreender que toda empresa é um ecossistema de relações vivas, e que cada decisão, cada reunião, cada silêncio carrega impacto sobre pessoas reais.

A verdadeira humanização se manifesta em coerência entre discurso e prática, entre valores e decisões.


Humanizar ambientes corporativos é fazer do cuidado um princípio organizador, não um adereço. Não é moda, é mudança de consciência. É deslocar o olhar do controle para o vínculo, do medo para a confiança, da escassez para a abundância.

Lado a lado com nossa empolgação pelo movimento crescente e o vocabulário cada vez mais utilizado em organizações, cresce nosso receio de ver  um novo fenômeno nascendo — o humanwashing — uma espécie de “verniz de humanização”, em que empresas adotam uma linguagem sensível, porém sem qualquer compromisso com seu significado real, “pegando carona” numa certa atmosfera que custou caro criar, custou adoecimento, segregação e injustiça.


A transformação que desejamos ver nas empresas precisa começar dentro das pessoas que as conduzem. Não há humanização sem autoconhecimento. Não há cuidado coletivo sem cuidado de si.


Edgar Morin nos lembra que “a ética do humano é inseparável da consciência de interdependência”. Cuidar é também assumir responsabilidade pelo outro e pelo sistema que o sustenta. Trabalhamos para ajudar a construir e manter culturas organizacionais regenerativas, promotoras de bem-estar, crescimento e saúde para todos. Não somente como estratégia de negócios – o que já é disruptivo – mas principalmente como estilo, como DNA, como escolha de filosofia de ser e estar.

Porque no fim, o que realmente transforma organizações não é o discurso sobre o humano, é o encontro verdadeiro entre humanos.


A Escola Humana está com inscrições abertas para o seu curso de Pós Graduação em Gestão de Saúde Mental e Bem-Estar nas Organizações, registrado no MEC. Você encontra mais informações na página do curso, clicando aqui: https://www.escolahumana.com/pos-saude-mental-e-bem-estar-organizacional

 

 

 
 
 

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