A confiança e a colaboração mútua são a base sólida na qual se constroem todas as relações humanas saudáveis.
Compartilhar o pão, é uma expressão para muitos, sagrada, é uma qualidade humana maravilhosa, evoca o lado bom dos seres humanos, altruísta e desinteressado.
Compartilhar é uma virtude humana, contudo, em economia aprendemos que as necessidades humanas são infinitas e os recursos são escassos e daí surge uma ideia de que aquilo que você deseja e eu tenho, aumenta o valor comercial, logo, eu consigo obter um preço melhor se o que tenho é algo que você deseja.
Nesta hora, surge outro elemento também humano, a imaginação, e a possibilidade de que com o lucro que faço sobre a nossa troca, eu posso satisfazer outras necessidades que tenho, mas que sem o lucro obtido sobre você, eu não poderia satisfazer.
E é com esse desejo, de satisfazer necessidades dos outros e com isso lucrar, que a economia se desenvolve, é esse espirito que move o ambiente de negócios, e que o economista John Maynard Keynes (1883-1946) batizou com o nome de espírito animal, a confiança ou otimismo que empreendedores tem em levar adiante suas ideias enxergando oportunidades de ganhos pessoais e que o pai da economia clássica, Adam Smith (1723-1790), um século antes, entendeu que acabava por beneficiar a todos: “Não é da benevolência do açougueiro, do cervejeiro ou do padeiro que esperamos nosso jantar, mas da consideração com o próprio interesse deles” disse Smith em sua obra clássica A riqueza das nações.
Para ele, essa busca de indivíduos por satisfazerem os seus próprios interesses oferecendo produtos e serviços que satisfaziam as necessidades dos outros, gerava inovação, concorrência, baixava preços e ao final, o que ele chamou de “mão invisível do mercado” acabava por beneficiar o todo.
Contudo, em seu livro Teoria dos Sentimentos Morais, que antecede ao clássico, “A riqueza das nações”, Smith deixou claro que a natureza humana não era apenas, ou mesmo principalmente, sobre o autointeresse, outros motivos como afeto, empatia, amizade, amor e desejo de aprovação social são, para muitas pessoas, ainda mais fortes do que o autointeresse, especialmente à medida que elas atingem um nível mais elevado de maturidade psicológica.
Porém, parece que nos esquecemos disso e concentramos os últimos quase três séculos, apenas na satisfação de nossos interesses materiais e financeiros, pois o crescimento econômico trouxe progresso, melhoria de bem-estar para muitos, mas as discrepâncias também aumentaram significativamente, de modo que outros tantos ficaram de fora e vemos num raio muito pequeno de grandes cidades, principalmente da América Latina, pessoas usufruindo de equipamentos de última geração melhorando a sua qualidade de vida, condição de saúde, educação e estética e ao mesmo tempo, às vezes morando a poucos metros uns dos outros, indivíduos que ainda sofrem de doenças que já foram erradicadas em muitos lugares há décadas e em situação de vulnerabilidade total, de alimentação, renda, moradia, educação e qualquer tipo de assistência à vida no nível mais básico.
Então, deveríamos repensar nossas vidas e fazer renascer a verdadeira colaboração, que gera relações e não competições entre os indivíduos, mas como fazer isso, quando necessitamos de margens de lucro em nossas trocas?
Bem, os desafios econômicos, sociais e políticos que a sociedade contemporânea enfrenta são enormes e gastamos cada vez mais dinheiro para tentar reparar esses danos. Vejamos as consequências no meio ambiente, com rios e mares poluídos, o ar cheio de fumaça tóxica que mata milhares por doenças respiratórias, isso sem contar as doenças mentais que tem batido recordes e que a venda de remédios e tratamentos, inclusive ajuda a elevar o PIB...
Será que tomamos o caminho certo?
Neste contexto, a economia colaborativa surge como uma opção, mas será que somos capazes de mudarmos de rumo?
Charles Darwin em seu livro “A origem das espécies”, publicado em 1859 afirmava que a luta pela sobrevivência é mais encarniçada quando travada entre indivíduos e variedades pertencentes à mesma espécie, mais do que a competição entre duas espécies diferentes.
Ao ver o que estamos causando ao meio ambiente e a nós mesmos, com a justificativa do crescimento econômico, que supostamente nos dará tudo aquilo que desejamos, tendo a dar mais um voto de confiança ao que o velho Darwin disse. Por outro lado, nenhuma espécie, se não a nossa, é capaz de usar o cognitivo para encontrar soluções, pois nós somos os únicos que sabemos que o futuro existe, e que ele pode não existir.
De modo que, precisamos usar o cognitivo e transformá-lo em comportamento, e comportamento colaborativo, gerando novos modelos de negócios e novas formas de evoluir de maneira autossustentável, unir economia e empatia, este é o desafio.
50 pessoas que são membros de uma organização e que cooperam, são mais poderosos que 500 pessoas cada um fazendo uma coisa diferente, disse um historiador famoso recentemente numa entrevista que assisti pela TV, e eu volto a dizer: “A confiança e a colaboração mútua são a base sólida na qual se constroem todas as relações humanas saudáveis”.
Emerson Dias
Autor de 3 livros, mestre em Administração Gestão de Negócios pela FIA/USP, com MBA Internacional em Gestão Estratégica de Pessoas pela FGV e Empreendedorismo pelo Babson College (EUA), Bacharel em Ciências Contábeis, especializado em Psicologia Econômica, Psicologia no ambiente organizacional e Filosofia. É colaborador da Escola Humana de Vida e Negócios.
www.oineditoviavel.com.br
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