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Criatividade e o pai

Foto do escritor: Patrícia NapolitanoPatrícia Napolitano

Atualizado: 22 de ago. de 2021

Criatividade e o Pai


Meu pai foi um grande encorajador da minha criatividade. Como todo pai, sua influência impactou minha vida além de suas intenções de fazer o melhor por mim.


Na luz da alquimia da seiva que circula em minhas raizes desde meu pai, estava a sua impecável atitude feminista, oferecendo a mim o encorajamento pra fazer o que eu desejasse. Desde viajar o mundo, cantar, estudar e assumir posições de liderança nos grupos em que atuasse, a fazer gols nas partidas de futebol e sentar à mesa em reuniões de negócios.


Na sombra da mesma seiva sagrada, um grau elevado de exigência, ausências de casa, que me fizeram mendigar sua aprovação e atenção, procurando sempre criar aquilo que fosse despertar seu olhar de admiração.


Quantos de nós limitamos nosso campo criativo à direção para a qual o pai está olhando?Quantas incontáveis vezes nos desconectamos da nossa essência como ponto de partida daquilo que criamos para satisfazer o pai ou a sua figura projetada no chefe ou na professora?


É importante dizer que não há nada de errado nisso e que todos nós precisamos dos nossos pais para agirem como nossos primeiros centros unificadores de consciência, ou seja, aqueles que nos contam como devemos nos comportar ou para que lado a estrada segue, cuidando da gente, como é natural que um pai faça. Mas o mesmo cordão que garante que os filhotes não se percam nos perigos da vida, são aqueles que limitam e que, em algum momento da nossa estrada criativa, precisam se romper.


De dentro pra fora, o grito anárquico, a rebeldia sadia, quebra muros que murmuravam vozes da moral, da necessidade de adequação e, ainda que elas soprem, desenvolvemos um mecanismo interno que responde de volta, em voz alta, e puxa para o próprio umbigo o poder de decisão, a opinião que realmente interessa.


A partir dessa estrada, passa a importar menos a opinião dos outros e vamos desenvolvendo uma relação de confiança com nossa própria percepção. O pai que tivemos é tomado, internalizado e finalmente nos apropriamos de sua autoridade para sermos verdadeiros autores de nossas obras.


Me lembro do meu pai me contando sobre sua experiência profissional, quando tornou-se presidente de uma empresa na qual trabalhou. Ele me disse: "quando atingimos um determinado estágio, filha, passamos a ter que tomar importantes decisões sozinhos, entre quatro paredes. A liderança é um lugar bastante solitário, mas aprendi a lidar com isso e você também aprenderá."


Ele também divergiu do meu avô, assim como eu tive coragem de enfrentar-lo algumas vezes. Mas acredito que a expansão criativa não tem só a ver com aquilo que vivenciamos no mundo externo com o nosso pai e, sim, com os movimentos internos dessa nossa relação com a energia paterna e nossa necessidade de reconhecimento.


Ser reconhecido pelo pai é, sem dúvida, um bálsamo para nossa criança interior e para os níveis mais primitivos da nossa psique. Mas se desejamos realmente evoluir em nosso poder criativo, é preciso enfrentar esse pai interno e descobrir nosso fluxo de nutrição a partir de nosso próprio reconhecimento.


Suportar a dor de não ser admirado pelo pai ou suas projeções e, ainda assim, sentir o impulso de criar a partir do prazer e da confiança em si mesmo é um dos movimentos mais significativos da jornada criativa.


Que todos nós possamos nos dar de presente a oportunidade de vivenciar esse pedacinho da estrada, sabendo que, ainda que tomar o pai para si implique em lidar com a solidão, não estamos sós e que o amor de pai, em seu cerne, jamais deixa de fluir em nossa direção.


Patrícia Napolitano


Comunicóloga, especializada em Administração de Empresas, Facilitadora de Expressão de Potenciais com Psicossíntese e professora da Escola Humana de Vida e Negócios.

@patricia.criatividade



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