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Arteterapia nas empresas: uma estratégia de prevenção ao Burnout


Quando analisamos a saúde mental dentro das empresas as estatísticas são alarmantes e não nos surpreende que em 1º de janeiro de 2022, a OMS (Organização Mundial da Saúde) tenha classificado o burnout como uma doença do trabalho.


De acordo com um levantamento feito pela ISMA-BR (International Stress Management Association), 30% das pessoas economicamente ativas no Brasil sofrem de burnout. Uma síndrome que causa exaustão física e mental acarretando problemas emocionais e de relacionamento na vida pessoal e profissional.


O burnout foi oficializado como o “estresse crônico de trabalho que não foi administrado com sucesso”, o que significa que tal síndrome poderia ter sido evitada se alguns cuidados tivessem sido tomados.


Se poderia ter sido evitado, então, quem é o culpado?


Esta é a clássica pergunta do mindset nocivo que ainda permeia o ambiente de algumas organizações: a busca pelo culpado.


Não podemos culpabilizar a vítima, dizendo que ela poderia ter investido mais em si mesma, no seu autocuidado, em sua saúde e bem-estar. E mesmo que esta seja uma doença diretamente relacionada ao trabalho, tão pouco podemos culpabilizar as empresas.

O que precisamos trazer é um senso de responsabilização mútua. Afinal, uma empresa é feita de pessoas e pessoas são feitas de sensações, pensamentos, sentimentos, desejos, medos, anseios que compõe a cultura organizacional. Portanto, claramente, é esta cultura que precisa mudar.


É possível separar vida pessoal e vida profissional?


Para olhar para a saúde e bem-estar no trabalho é preciso entender a dinâmica das nossas relações pessoais e trabalhistas. Desde a 1ª Revolução Industrial houve uma ruptura no contexto de vida dos trabalhadores: passamos a ter uma vida pessoal e uma outra vida profissional. Onde, nesta última, as emoções, os sentimentos, o subjetivo e o abstrato não tiveram espaço desde então.


A sociedade se transformou, a tecnologia avançou, a pandemia chegou e a realidade foi escancarada: a vida pessoal e a vida profissional são dois lados de uma mesma moeda chamada Vida e, portanto, são inseparáveis.


Hoje, vivemos a chamada 4ª Revolução Industrial onde a velocidade é exponencial, não há mais fronteiras entre o pessoal e o profissional, os impactos são sistêmicos, as mudanças são profundas e as demandas são intensas.


Frases como “não leve trabalho para casa”, “deixe seus problemas pessoais longe do trabalho” acabam se tornando constructos sociais que nos levam cada vez mais à ansiedade e ao estresse.


Como não levar o trabalho para casa se meu chefe me pediu uma ajuda urgente e meu senso de comprometimento é alto e não posso me dar ao luxo de ser demitido? Como não deixar o luto que estou vivenciando pela morte de um ente querido afete meu desempenho profissional? Como manter o bom-humor e a criatividade, no meu dia a dia, se não me sinto valorizado e reconhecido em casa ou no trabalho?


Tratar essas e outras questões humanas complexas no ambiente profissional é quase impossível: um estudo realizado pela Kenoby Talks, start-up de tecnologia para RH, foram entrevistados 488 profissionais de recursos humanos e os achados foram críticos: 93% dos profissionais disseram que o RH ainda ignora questões relacionadas à saúde mental dos colaboradores e 71% dos entrevistados, afirmaram que ainda não existe uma área ou pessoa dedicada para tratar sobre o tema.


Caracterizado pela tríade: cansaço físico e mental extremos, distanciamento afetivo e baixa realização pessoal o burnout é uma síndrome que se inicia de forma silenciosa, afinal, um pouco de tensão e estresse no ambiente de trabalho podem parecer saudáveis.


Podem parecer, mas não são.


Sabendo que a dinâmica profissional ocupa dois terços da vida das pessoas, tratar a saúde mental dos colaboradores como uma estratégia empresarial de sustentabilidade e crescimento chega a ser mandatório nos dias de hoje.


Os transtornos mentais e comportamentais estão em 3º lugar como motivos dos afastamentos de trabalho. Segundo dados da Secretaria especial de Previdência e Trabalho, em 2020 houve um aumento de 26% de afastamentos por este motivo, em relação ao ano anterior.


Apesar de, neste mesmo estudo da Kenoby Talks, quase 60% dos profissionais de RH terem dito que está nos planos da empresa contratar um profissional ou criar um departamento dedicado a saúde mental dos colaboradores, pouco se fala sobre técnicas e ferramentas que são realmente eficazes para prevenir o burnout.


A arte é um dos meios que une os homens (Liev Tolstói)


Falta de comunicação, baixos níveis de apoio na resolução de problemas e no desenvolvimento pessoal, isolamento físico ou social, relacionamentos difíceis com superiores, conflitos interpessoais e falta de apoio social, são as principais condições no âmbito profissional que levam risco à saúde mental, conforme aponta pesquisa desenvolvida pela Agência Europeia de Pesquisa em Segurança e Saúde no Trabalho (EASHWR).


Em contrapartida, segundo o Project Management Institute (PMI), em pesquisa realizada para o Estudo de Benchmarking em Gerenciamento de Projetos do Brasil, realizado com 184 empresas do país, habilidades de comunicação (53%), gestão de conflitos (42%) e capacidade para integrar as áreas (35%) foram consideras as mais deficientes em gestores de projetos.


Como podemos observar, o gap é gigante! E o caminho de solução para a prevenção do Burnout requer mudanças importantes nas organizações. Mudanças que sejam capazes de reduzir os fatores de estresse, que melhorem as relações humanas, a capacidade de diálogo entre a equipe, a autonomia profissional.


Mudanças que permitam às pessoas expressar seus sentimentos e emoções, que as façam se sentir reconhecidas, apoiadas e valorizadas. Que permitam que elas reconheçam e integrem questões pessoais, subjetivas e simbólicas ao contexto profissional.


Arteterapia baseada em evidências científicas


Em 2019, a Organização Mundial da Saúde (OMS) publicou uma revisão de mais de 3.000 estudos sobre as evidências da arte na promoção da saúde e bem-estar. Sob o título “What Is the Evidence on the Role of the Arts in Improving Health and Well-Being?”, a revisão encontrou evidências que comprovam que as artes podem gerar impactos potencialmente positivos na saúde física e mental das pessoas.


Para além desta revisão publicada pela OMS, diversos outros estudos já comprovaram a eficácia da arteterapia na promoção da saúde e bem-estar de profissionais.

Em um estudo piloto, publicado no The Arts in Psychotherapy Journal, se propôs a avaliar se a arteterapia era capaz de reduzir o nível de burnout em profissionais de centros de Oncologia.


Neste estudo, 65 médicos e enfermeiros de uma unidade de oncologia de adultos (Grupo A) e de uma unidade de oncologia pediátrica (Grupo B) foram primeiramente submetidos ao Maslach Burnout Inventory para estimar o nível de burnout destes profissionais. Em ambos os grupos, os resultados dos níveis de estresse foram identificados entre médio e alto.


Na segunda parte do estudo, o Grupo B passou por um programa de intervenções de arteterapia com o objetivo de reduzir o nível de burnout. A comparação das respostas dos participantes do Grupo B antes e depois da intervenção indicou uma diminuição estatisticamente significativa do nível de burnout em comparação ao do Grupo A que não passou pela intervenção.


O estudo preliminar concluiu que a síndrome de burnout existente entre os profissionais de ambas as unidades de oncologia e pode ser efetivamente tratada com terapias de arte.

Em um outro estudo projetado para determinar se a arteterapia teria algum efeito sobre o estresse e a ansiedade de funcionários, demonstrou que depois da arteterapia o nível do indicador de estresse (cortisol) ao longo de vinte e quatro horas e também o estado de ansiedade diminuiu significativamente comparado ao grupo de controle.


A arte existe para que a realidade não nos destrua (Friedrich Nietzsche)


Inserir a arteterapia nas organizações pode parecer um tanto quanto inusitado aos olhos de quem está focado em atingir metas, cumprir prazos, acompanhar KPI’s e entregar resultados.


É no desequilíbrio entre a busca por recompensa financeira, emocional, gestão de demandas e senso de propósito que a síndrome de burnout pode se instalar.


O neurologista Pierre Lemarquis, autor do livro "L'art qui guérit" (A arte que cura), explica que fazer ou contemplar a arte estimula o circuito da recompensa em nosso cérebro, aumentando a fabricação de hormônios relacionados ao prazer: dopamina (que gera a alegria de viver), a serotonina (que traz bem-estar), oxitocina (que estimula o vínculo) e as endorfinas (que melhoram o humor e combatem a dor).

Como vimos, a arteterapia para os funcionários é uma medida preventiva, para que cada pessoa compreenda os fatores estressores do seu dia a dia, seja capaz de gerenciar sua ansiedade, lidar melhor com o estresse e reagir adequadamente diante de tais situações, melhorando assim a qualidade de vida por meio da criatividade, imaginação e expressão.


Para além dos benefícios de redução do estresse, ansiedade e de prevenção ao burnout, os recursos arte terapêuticos são também aplicáveis e extremamente eficazes em programas de:

· Desenvolvimento de lideranças

· Fortalecimento de equipes

· Desenvolvimento de habilidades de comunicação

· Mediação e solução de conflitos

· Desenvolvimento do potencial criativo e de inovação da equipe


É importante ressaltar que em intervenções que utilizam recursos arte terapêuticos não há preocupação alguma com a estética daquilo que se está criando. Nestas vivências o foco é a expressão do conteúdo latente que está dentro do colaborador. Aquilo que ele não conseguiu, não soube como ou não pode expressar através de seus recursos verbais, ele pode, enfim, expressar através do grafismo, da pintura, de movimentos corporais, da escrita, dos sons.


Ao tomar contato com aquilo que se produziu por meio da arte, as emoções, sentimentos, sensações, pensamentos e percepções tomam forma, cor, volume, espaço, o que facilita a compreensão, elaboração, ressignificação e integração daquilo que se está vivenciando, uma vez que traz para o mundo concreto e objetivo aquilo que não conseguimos colocar em palavras.


 

Quer saber mais como a arteterapia pode melhorar a produtividade e os resultados da sua empresa e ainda garantir a saúde mental e o bem estar dos seus colaboradores?



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