Muito tem se falado sobre a importância da representatividade de pessoas LGBTQIAP+ nos mais diversos espaços, sejam eles corporativos, artísticos e políticos. Isto não é algo recente, pois tem sido demandada há muito tempo e já tocou em necessidades tão básicas quanto a reivindicação do direito de ser quem se é.
Nos últimos anos, as pautas da Comunidade LGBTQIAP+ tiveram muitas conquistas. A primeira, e talvez mais essencial delas, foi a descriminalização da homossexualidade (1830) *. Porém, apenas nas décadas de 1960 e 1970 que as travestis começaram a ganhar destaque na cena alternativa de SP (1960, por influência da Revolta de Stonewall**) com a formação do primeiro grupo de afirmação homossexual – o Grupo Somos, em 1978. Com isso, redes de apoio se constituíram em coletivos para o combate à epidemia HIV/AIDS.
A homossexualidade deixou de ser considerada uma doença somente em 17 de maio de 1990. E esta data se tornou tão significativa que é considerada um marco, quando é celebrado o Dia Internacional contra a Homofobia.
Outro momento muito celebrado, é a Parada LGBTQIAP+ que teve sua primeira edição em 1997. Este evento celebra a diversidade sexual dentro da Comunidade e arrasta, anos após anos, aliados e aliadas na luta contra a discriminação.
Outros marcos resultaram em leis e medidas. Destaco, entre eles, a autorização do Conselho Federal de Medicina para a cirurgia de redesignação sexual, em 2002; a primeira adoção de uma criança por um casal LGBTQIAP+, em 2005; o casamento entre pessoas LGBTQIAP+ passou a ser reconhecido em 2011, assim como, em 2013, foi publicada a medida que proíbe a recusa da celebração de casamentos entre pessoas LGBTQIAP+.
A autorização do uso do nome social por órgãos e entidades, por repartições públicas e privadas chegou somente no ano de 2016, seguida da mudança do gênero e nome no registro civil, ocorrida em 2018.
Por fim, mas não menos importante, a necessária criminalização da LGBTQIAP+fobia, em 2019.
Como é de se perceber as conquistas de hoje são resultado de muita luta e resistência coletiva. Mas, os números nos mostram que ainda precisamos de muita discussão para evoluirmos como sociedade:
· O Brasil ainda é o país que mais mata pessoas LGBTQAIP+ no mundo
· 1 pessoa LGBTQAIP+ é discriminada por hora¹
· A expectativa de vida de uma pessoa transgênero é de, em média, 35 anos²
· 63% dos jovens entre 18 e 25 anos, relatam sentir rejeição total ou parcial dos familiares após "saírem do armário" e apenas 59% revelam sua orientação sexual para a família³
· 66% das pessoas acreditam que revelar sua identidade pode ser prejudicial à carreira4
· 82% acreditam que as empresas ainda têm muito o que fazer para acolhê-las5
· 41% dos funcionários LGBTQIAP+ afirmam terem sofrido algum tipo de discriminação no ambiente de trabalho.
Diante de tantas conquistas e números ainda estarrecedores, você pode se perguntar: se eu não faço parte da sigla LGBTQIAP+, o que eu posso fazer para ajudar?
A resposta é simples: seja uma pessoa aliada à causa.
Pessoas aliadas são aquelas que se propõe a aprender sobre os problemas da comunidade e se prepara para ajudar sempre que possível. São as pessoas que por meio de pequenas atitudes no seu dia a dia fazem a diferença.
Quero destacar algumas:
· Pergunte! Sempre que tiver alguma dúvida, pergunte. Não sabemos de tudo e está tudo bem! Principalmente quando não vivenciamos determinadas situações. Por exemplo: se você não sabe por qual pronome uma pessoa deseja ser chamada, não presuma, pergunte a ela.
· Escute! Apenas as pessoas LGBTQIAP+ podem te ajudar a compreender sua própria realidade, uma vez que você não a vivência. Assim, escute atentamente, para que você possa aprender sobre outras possíveis formas de vivência e existência.
· Não faça comparações! Não compare dor, sofrimento ou situações de preconceito e/ou discriminação entre nenhum tipo de pessoa. Dor não se mede, se sente e busca-se eliminá-las.
· Reconheça os seus vieses inconscientes! É normal e humano possuir vieses. Todos nós temos! Sabendo disso, questione os seus próprios julgamentos, opiniões, preconceitos e até gostos. Não é possível eliminar todos os nossos vieses, mas é possível questioná-los e, pouco a pouco, tomar consciência deles para mudarmos nossas atitudes.
· Saia da sua bolha! Conheça outras pessoas e/ou outras realidades. Muitas percepções que temos surgem por não conhecermos outras perspectivas. Permita-se!
· Posicione-se! Ao ver ou presenciar uma situação de preconceito e/ou discriminação, não se cale. Não compactue com piadas, comentários e atitudes LGBTQIAP+fóbicas.
Lembre-se SEMPRE: homofobia é crime e você também pode denunciar.
Por fim e mais importante, RESPEITE. A diversidade é uma grande fortaleza humana e não deve ser motivo de desrespeito. Sendo assim, exerça a empatia e respeite as diferenças.
Este assunto precisa avançar no Brasil. Precisamos de mais políticas públicas que acolham as necessidades da população LGBTQIAP+ que vão desde a reestruturação de processos, que ainda hoje, demonstram-se homo e transfóbicos, até ações de saúde pública que proporcionem cobertura para questões de saúde física e mental, principalmente no caso de pessoas trans/travestis que vivem à margem e excluídas da nossa sociedade.
Mas, não apenas o poder público precisa se mover, o mundo corporativo também pode e deve cumprir com seu papel e responsabilidade social. Em uma pesquisa recente realizada pela GPTW em 2022, somente 17% das empresas têm o tema diversidade como uma prioridade dos seus negócios e pouco mais de 12% das empresas se dizem ter maturidade para discutir e trabalhar o tema.
Reforço o que eu já comentei antes: ainda há uma longa jornada pela frente para que tenhamos uma sociedade verdadeiramente inclusiva. E é papel de todos nós atuarmos para que essa seja uma realidade.
Notas e Referências:
*A pena de morte por sodomia foi extinta nove anos antes.
** O público dos bares tidos como gays dos anos 60 estavam acostumados a batidas policiais, mas foi no dia 28 de junho de 1969 que eles registram a uma dessas batidas, causando uma rebelião que mudou a história. Mesmo que algumas resistências já tivessem acontecido no Brasil e no mundo, foram as revoltas de Stonewall, que duraram dias que fez ecoar um basta à violência sistêmica.
¹ Fonte: Grupo Gay da Bahia
² Fonte: Fonte: ANTRA e IBGE
³ Fonte: SMADS
4 Fonte: Exame, 2019
5 Fonte: G1, 2019
6 Fonte: Coqual, 2019
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