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Foto do escritorKelly Quirino

Enquanto a Consciência Humana for racista, será necessário um dia para a Consciência Negra

No Brasil, o mês de novembro é relacionado a Consciência Negra por rememorar a morte de Zumbi, líder do Quilombo dos Palmares. No dia 20 de novembro de 1965, após a invasão do quilombo pelo bandeirante paulista Domingos Jorge Velho, Zumbi foi preso, morto e decapitado para provar para os negros escravizados, que caso fugissem, teriam o mesmo fim.

Mesmo após os manifestos do Black Lives Matter (Vidas Negras Importam) em todo mundo, devido ao assassinato de George Floyd em 2020 , é comum dizerem que não há consciência negra. Há sim uma consciência humana, porque somos todos iguais e seres humanos.

Se todos fossem iguais e tratados com humanidade, a cor da pele não seria uma distinção social. Critério este que não é apenas físico, mas que na sociedade brasileira determina acesso a alimentação, moradia, trabalho e até o de permanecer vivo ou morrer. O Brasil tem a maior população de afrodescendentes do mundo, mais de 54% da população, (perde apenas para Nigéria) e é este povo que possui os piores indicadores sociais de analfabetismo, desemprego, moradias precárias e mortes precoces. Instituições renomadas como IBGE, IPEA, periodicamente divulgam dados estatísticos das diferenças raciais demostrando que as pessoas brancas possuem melhores indicadores socioeconômicos do que as pessoas negras.

Até a década de 80, celebrava-se no Brasil o 13 de maio como dia da libertação dos escravos, assinado pela Princesa Isabel. Todavia, no final dos anos 70, o movimento negro começou a reivindicar uma outra história: a liberdade foi uma conquista, não foi dada. Foram mais de 350 anos de pessoas negras escravizadas e os quilombos foram criados para serem espaços de vida digna contra as atrocidades da escravidão – falta de comida, estupros, açoites. No Império, vários negros lutaram pela abolição. Luís Gama, advogado e jornalista, foi um deles. Recentemente teve um filme sobre a biografia realizado pelo cineasta Jeferson De. Está disponível no streaming Netflix. Vale a pela conferir.

Foi dentro deste contexto, que o movimento negro passou a celebrar o dia 20 de novembro por meio da figura histórica de Zumbi dos Palmares. Herdeiro do Rei do Congo Garcia II, neto de Aqualtune, Zumbi simboliza que o povo negro nunca aceitou passivamente a desumanização da escravidão.

E, atualmente, os negros brasileiros celebram o 20 de novembro e denunciam o racismo que ainda existe em nosso país. Racismo que mata um jovem negro a cada 23 minutos. Racismo que invisibiliza a história afro-brasileira não contando as narrativas de Aqualtune, Dandara, Acotirene, André Rebouças, Teodoro Sampaio, Milton Santos, Lélia Gonzalez, entre tantas outras pessoas negras importantes para a História do Brasil. Racismo que não representa a população negra de forma proporcional em espaços de poder como judiciário, diretorias de empresas e nos meios de comunicação.

Todavia, há uma necropolítica, citando o filósofo camaronês Achile Mbembe que vitimiza pessoas negras diariamente. Isto ocorre, porque as pessoas negras foram desumanizadas no período colonial, e até hoje, suas vidas não possuem o mesmo valor das pessoas brancas em sociedades criadas por meio das hierarquias raciais.

Consciência Humana é uma desculpa para não avançarmos sobre as discussões de raça e racismo no Brasil. Enquanto houver pessoas negras sendo assassinadas por serem negras, continua sendo necessário ter um dia para a Consciência Negra.


Kelly Quirino

Mulher, negra, heterossexual, cisgênero, solteira e sem filhos. Nasceu negra, mas só desenvolveu consciência racial ao acessar a universidade, aos 23 anos de idade.

Graduada em Comunicação Social - habilitação em jornalismo pela Unesp, é Mestra em Comunicação Midiática e Doutora em Comunicação pela UnB. Pesquisa Relações Raciais há 15 anos.

É consultora em Gênero e Raça com experiência no mercado na produção de conteúdo jornalístico, marketing digital e eventos. Professora de Relações Raciais e Diversidade na UnB.

Em 2020, foi eleita uma das 115 mulheres de referência na luta antirracista no Brasil.

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